Produced by Vasco Salgado
Separata d'A CONTEMPORANEA 7
+José d'Almada-Negreiros+
1915
[Nota do Transcritor: Aqui surge a ilustração com o autor.]
(ALMADA por D. VASQUEZ DIAS)
Collaboração inédita d'ORPHEU N.^o 3
Excerptos de um poema desbaratadoque foi escripto durante ostrês dias e as três noites que duroua revolução de 14 de Maio de 1915.
Satanizo-Me Tara na Vara de Moysés!
O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes,
Inferno a arder o Meu cantar!
Sou Vermelho-Niagára dos sexos escancarados nos chicotes dos cossacos!
Sou Pan-Demonio-Trifauce enfermiço de Gula!
Sou Genio de Zarathustra em Taças de Maré-Alta!
Sou Raiva de Medusa e Damnação do Sol!
Ladram-Me a Vida por vivê-Lae só me deram Uma!Hão-de lati-La por sina!agora quero vivê-La!Hei-de Poeta cantá-La em Gala sonora e dina!Hei-de Gloria desannuviá-La!Hei-de Guindaste içá-La Esfingeda Valla commum onde Me querem rir!Hei-de trovão-clarim levá-La Luzás Almas-Noites do Jardim das Lagrymas!Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeianos Funeraes de Mim!Hei-de Alfange-Mahomacantar Sodoma na Voz de Nero!Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre,hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido…,hei-de ser Attila, hei-de Nero, hei-de Eu,cantar Attila, cantar Nero, cantar Eu!
Sou throno de Abandono, mal-fadado,nas iras dos barbaros, meus Avós.Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sinagemidos vencidos de fracos,ruidos famintos de saque,ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga!Sou ruinas razas, innocentescomo as azas de rapinas afogadas.Sou reliquias de martyres impotentessequestradas em antros do Vicio e da Virtude.Sou clausura de Sancta professa,Mãe exilada do Mal,Hostia d'Angustia no Claustro,freira demente e donzella,virtude sosinha da cellaem penitencia do sexo!Sou rasto espesinhado d'Invasoresque cruzaram o meu sangue, desvirgando-o.Sou a Raiva atavica dos Tavoras,o sangue bastardo de Nero,o odio do ultimo instantedo condemnado innocente!A podenga do Limbo mordeu raivosaas pernas nuas da minh'Alma sem baptismo…Ah! que eu sinto, claramente, que nascide uma praga de ciumes!Eu sou as sete pragas sobre o Nyloe a Alma dos Borgias a penar!
E eu vivo aqui desterrado e Jobda Vida-gemea d'Eu ser feliz!E eu vivo aqui sepultado vivona Verdade de nunca ser Eu!Sou apenas o Mendigo de Mim-Proprio,orphão da Virgem do meu sentir.
(Pezam kilos no Meu querer
as salas-de-espera de Mim.
Tu chegas sempre primeiro…
Eu volto sempre amanhã…
Agora vou esperar que morras.
Mas tu és tantos que não morres…
Vou deixar d'esp'rar que morras
—Vou deixar d'esp'rar por Mim?!…)
Ah! que eu sinto, claramente, que nascide uma praga de ciumes!Eu sou as sete pragas sobre o Nyloe a Alma dos Borgias a penar!
Hei-de, entretanto, gastar a gargantaa insultar-te, ó bêsta!Hei-de morder-te a ponta do raboe pôr-te as mãos no chão, no seu logar!Ahi! Saltímbanco-bando de bandoleiros nefastos!Quadrilheiros contrabandistas da Imbecilidade!Ahi! Espelho-aleijão do Sentimento,macaco-intruja do Alma-realejo!Ahi! maquerelle da Ignorancia!Silenceur do Genio-Tempestade!Spleen da Indigestão!Ahi! meia-tijella, travão das Ascensões!Ahi! povo judeu dos