A HARPA DO CRENTE.


TENTATIVAS POETICAS


PELO

AUCTOR DA VOZ DO PROPHETA.







LISBOA--1838
NA TYP. DA SOCIEDADE PROPAGADORA DOS CONHECIMENTOS UTEIS.
Rua direita do Arsenal--n.o 55.





A HARPA DO CRENTE.

TENTATIVAS POETICAS

PELO

AUCTOR

DA

VOZ DO PROPHETA.



PRIMEIRA SERIE.



LISBOA--1838
NA TYP. DA SOCIEDADE PROPAGADORA DOS CONHECIMENTOS UTEIS.
Rua direita do Arsenal--n.o 55.

A Semana Sancta.



A S. Ex.a O MARQUEZ DE RESENDE.




Em testemunho de amisade e veneração




Offerece o Auctor.

Pág. 7

A Semana Sancta.

Der Gedanke Gott weckt einenfurchterlichem Nachbar auf,sein Name heisst Richter.

Schiller.

I.

Tibio o sol entre as nuvens do occidenteJá lá se inclina ao mar. Grave e solemneVai a hora da tarde!--O oeste passaMudo nos troncos da lameda antiga,Que já borbulha á voz da primavera:O oeste passa mudo, e cruza a portaPonteaguda do templo, edificadoPor mãos rudes de avós, em monumentoDe uma herança de fé, que nos legaram,A nós seus netos, homens de alto esforço,Que nos rimos da herança, e que insultamosA cruz e o templo e a crença de outras eras:Nós, homens fortes, servos de tyrannos,Que sabemos tão bem rojar seus ferrosPág. 8Sem nos queixar, menospresando a PatriaE a liberdade, e o combater por ella.Eu não!--eu rujo escravo; eu creio e esperoNo Deus das almas generosas, puras,E os despotas maldigo.--EntendimentoBronco, lançado em seculo fundidoNa servidão de goso ataviada,Creio que Deus é Deus, e os homens livres!

II.

Oh sim!--rude amador de antigos sonhos,Irei pedir aos tumulos dos velhosReligioso enthusiasmo, e canto novoHei-de tecer, que os homens do futuroEntenderão:--um canto escarnecidoPelos filhos dest' épocha mesquinha,Em que vim peregrino a vêr o mundo,E chegar a meu termo, e repousar-meDepois á sombra de um cypreste amigo.

III.

Passa o vento os do portico da IgrejaEsculpidos umbraes: correndo as navesSussurrou, sussurrou entre as columnasDe gothico lavor: no orgam do coroPág. 9Veio em fim murmurar e esvaecer-se.Mas porque sôa o vento?--Está deserto,Silencioso ainda o sacro templo:Nenhuma voz humana ainda recordaOs hymnos do Senhor. A naturezaFoi a primeira em celebrar seu nomeNeste dia de lucto e de saudade!Trévas da quarta feira eu vos saudo!Negras paredes, velhas testemunhasDe todas essas orações de mágoa,Ou esperança, ou gratidão, ou sustos,Depositados ante vós nos diasDe uma crença fervente, hoje enlutadasDe mais escuro dó, eu vos saudo!A loucura da cruz não morreu todaApoz dezoito seculos!--Quem choreDo sofrimento o Heróe existe ainda.Eu chorarei--que as lagrymas são do homem--Pelo Amigo do povo, assassinadoPor tyrannos, e hypocritas, e turbasEnvilecidas, barbaras, e servas.

IV.

Tu, Anjo do Senhor, que accendes o estro;Que no espaço entre o abysmo e os ceus vagueas,D'onde mergulhas no oceano a vista;...

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