AMOR DE SALVAÇÃO
AMOR DE SALVAÇÃO
POR
CAMILLO CASTELLO-BRANCO
A heavy price must all pay who thus err,
In some shape; let none think to fly the danger,
For soon or late Love is his own avenger.
Byron—Don Juan,c. IV. est. 73.
L'amour n'a point de moyen terme: ou il perd, ou il sauve.
V. Hugo—LesMisérables.
V. M.
PORTO
EM CASA DA VIUVA MORÉ—EDITORA
PRAÇA DE D. PEDRO
A mesma casa em Coimbra, rua da Calçada.
Casa de Commissões em Paris, 2bis, rua d'Arcole.
1864
PORTO—TYPOGRAPHIA DE ANTONIO JOSÉ DA SILVA TEIXEIRA
Cancella Velha, 62
Meu amigo
Peço licença para inscrever o seu nome na primeira pagina d'este livro.Esta fica sendo para mim a mais prestante da obra. As outras são futilidades;por que lagrimas e alegrias de romance é tudo futil.
No Minho, em 1864.
Camillo Castello-Branco.
O leitor folhêa duzentas paginas d'este livro, e o amor de felicidade ebom exemplo não se lhe depara, ou vagamente lhe preluz. Tres partes doromance narram desventuras do amor de desgraça e mau exemplo. A critica,superintendente em materia de titulos de obras, querendo abater-se aesquadrinhar a legitimidade do titulo d'esta, póde embicar, e ponderar—que oamor puro, o amor de salvação vem tarde para desvanecer as impressões do amorimpuro, do amor infesto.[8]
Respondo humilimamente:
Amor de salvação, em muitos casos obscuros, é o amor que excrucia edeshonra. Então é que o senso intimo amostra ao coração a sua ignominia emiseria. A consciencia regenera-se, e o coração, rehabilitado, avigora-separa o amor impolluto e honroso. Assim é que as enseadas serenas estão paraalém das vagas montuosas, que lá cospem o naufrago aferrado á sua tabua. Semo impulso da tormenta, o naufrago pereceria no mar alto. Foi a tempestade queo salvou.
Além de que a felicidade, como historia, escreve-se em poucas paginas; éidyllio de curto folego: no sentir intraduzivel da consciencia é que ellaencerra epopeas infinitas;—em quanto que a desgraça não demarca balizas áexperiencia nem á imaginação.
Para o amor maldito, duzentas paginas: para o amor de salvação as poucasrestantes do livro. Volume, que descrevesse um amor de bem-aventurançasterrenas, seria uma fabula.
O AUTHOR.[9]
Estava claro o céo, tepido o ar, e as bouças e montados floridos. O mezera o de Dezembro, de 1863, em vespera do Natal.
A gente das cidades pergunta-me em que paiz do mundo florecem, emDezembro, bouças e montados.
Respondo que é em Portugal, no perpetuo jardim do mundo, no Minho, onde osinventores de deuses teriam ideado as suas theogonias, se não existisse aGrecia. No Minho, ao