LISBOA TYPOGRAPHIA CASTRO IRMÃO 31 Rua da Cruz de Pau 31 1882
O DESASTRE DE LISBOA
TIRAGEM ESPECIAL
30 exemplares numerados
Em papel Japão, n.os 1 a 12......... 1$200
Em papel Whatman, n.os 13 a 30...... $600
CENTENARIO DO MARQUEZ DE POMBAL
8 DE MAIO DE 1882
O DESASTRE DE LISBOA
EM 1755
POESIA
POR
A. d'Oliveira Cardoso Fonseca
LISBOA TYPOGRAPHIA CASTRO IRMÃO 31 Rua da Cruz de Pau 31 1882
..............contempléz ces ruines affreuses, Ces débris, ces lambeaux, ces cendres malheureuses, Ces femmes, ces enfants, l'un sur l'autre entassés Sous ses marbres rompus, ses membres dispersés.
Voltaire, Poëme sur le desastre de Lisbonne.
O DESASTRE DE LISBOA
I
Tornou-se escuro o céu, sol não se via; Medonha tempestade se formava; O solo, se gretando, estremecia E n'um abysmo grande se tornava! Lisboa nunca viu tão triste dia; Perdida toda a gente se julgava; As casas, sacudidas, oscilavam E pelo gran' tremor se esmoronavam!
II
O cataclismo nada respeitava; Palacios, templos, casas destruia, E nos tristes destroços abysmava Os miseros que n'elles envolvia. Uma desgraça tal ninguem poupava Á grande mortandade, que fazia: E sob as cantarias deslocadas As gentes expiravam sepultadas.
III
Em mui breves momentos... a cidade O mais lugubre quadro apresentava. Os habitantes, cheios d'anciedade Que tamanho terror lhes inspirava E de Deus supplicando, em vão, piedade, Fugiam para a rua, onde reinava Na triste, apavorada multidão A mais indiscriptivel confusão.
IV
Abandonando as casas procuravam Immersos não ficarem nas ruinas: Mas, aquelles que d'ellas escapavam, Sob o ferro das gentes assassinas, Que d'essa confusão se aproveitavam, Nas ruas saqueando--almas ferinas!--, Succumbiram;--que o ferro lhes tirava Vida, que o terremoto respeitava.
V
E, qual mimosa flor desabrochada Que cuidadoso trata o jardineiro Por aspero tufão sendo açoutada Barbaramente, perde a côr e o cheiro, E sobre a tenra haste já quebrada Vai definhando, e morre no canteiro; Assim as creancinhas, que perdidas Das mães estavam, eram consumidas.
VI
E, como se uma tal desolação A flagello das gentes não bastasse, Bandidos houve que com impia mão E para que o terror se accrescentasse N'esta já desditosa occasião, Um incendio atearam que queimasse, Nas devorantes chammas que nutriam, As casas que aos abalos resistiam.