Creio ser actualmente o momento mais opportuno para discutir o governodemocratico. Embora as questões economicas, vulgarmente denominadas«questões sociaes», tenham presentemente a preeminencia politica, osgovernos representativos apresentam uma tal desordem e corrupção que éurgente saír d'um estado manifestamente perigoso, cujo ultimo termo édifficil de prevêr.
A sciencia politica, se não nos dá um remedio seguro e prompto,auctorisa pelo menos tentativas de melhoria com probabilidades de bomexito. D'este numero é a representação por classes, para que lentamente seteem encaminhado os governos representativos.
[VII]Os recentesdesmandos do parlamento e o ultimo congresso agricola reforçam estaopinião. Todos concordam em que o regimen parlamentar não póde viver n'estefogo de guerrilhas, ao mesmo tempo que todos reconhecem que o congressoagricola, embora chegasse a conclusões em grande parte inacceitaveis, tevea vantagem de nos tornar bem patentes os soffrimentos e aspirações dalavoura, significando simultaneamente que o paiz não se julga representadono parlamento. Esta sobreposição de representantes leva-nos a perguntarquaes são os representantes legitimos.
Em todo o caso, a situação é difficil e a discussão proveitosa. Por issoouso acreditar que não perderei o meu tempo colhendo em duas excellentespublicações estrangeiras algumas ideias sobre a materia que, sob nova fórmae coordenação e juntamente com observações proprias, hoje apresento aopublico portuguez.
Não precisarei decerto encarecer a auctoridade de Sumner Maine, cujolivro me serviu de texto principal. A perda recente do sabio investigadordas instituições primitivas, que o [VII] mundo scientifico unanimemente deplora, deulogar a que se recordassem os seus serviços e a que mais uma vez sereconhecesse que foi um dos homens que maior influencia tiveram nopensamento contemporaneo.
[VIII]Quem ha cincoenta annos tivesse a coragem de publicar um livro como o deSumner Maine, seria julgado visionario ou apaixonado, que não via ou nãoqueria vêr os esplendores d'um regimen politico que promettia á humanidadeuma nova era toda radiante de riqueza, de paz e liberdade. Hoje não; o seueloquente libello é tido como um livro sincero, que encerra porventuraalguns erros entre punhados de verdade