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PARODIA AO PRIMEIRO CANTO DOS LUSIADAS DE CAMÕES POR QUATRO ESTUDANTESDE EVORA EM 1589.

LISBOA.
NA TYPOGRAPHIA DE G. M. MARTINS.
Rua do Ferregial de Baixo, 22.
1880.

As honras da parodia só ás obras do genio costumam conceder-se. A divinaIliada foi parodiada em um poema heroi-comico tão antigo, que geralmentese attribue ao proprio Homero; ainda que Suidas lhe dá por auctor aPigres, irmão da Rainha Artemisa. N'esse poema, intitulado aBatrachomyomachia, a terrivel lucta dos Gregos e Troianos éreproduzida no maravilhoso combate dos ratos e das rãs. Esta corôaburlesca ainda faltava ao rival de Homero, quando o poeta Scarronprimeiro marido da famigerada Marqueza de Maintenon, se lembrou decantar:

    …… cet homme pieux,
Qui vint chargé de tous se Dieux
Et de Monsieur son père Anchise,
Beau vieillard à la barbe grise, etc.

A grande obra do unico homem de genio que talvez tenha produzido a nossaterra, não podia isentar-se d'este fado inherente ás grandescelebridades. Eram apenas passados dezoito annos depois da publicaçãodos Lusiadas—ainda a reputação de Camões não estava consagrada pelosseculos, quando alguns homens engenhosos comprehenderam que aquella obraimmortal era uma d'aquellas a que a parodia era devida. O resultado deseus trabalhos não é de certo para comparar com nenhuma das espirituosasproducções que ficam mencionadas; mas ainda assim não é estainteiramente destituida de merecimento. Francisco Soares Toscano, bemconhecido dos litteratos pelo seu Parallelo de Principes, escreveu umainteressante noticia sobre esta obra, em que nos conta o curioso modopor que ella foi composta. Quatro estudantes da Universidade d'Evoracostumavam sair a passear, ás tardes, aos arrabaldes da cidade, levandocomsígo os Lusiadas. Chegados a um verde ferrageal, sentavam-se a umafresca sombra, e se abria a sessão parodiadora. Assim como a engelhada edisforme mascara de uma velha megéra cobre o rosto radiante de formosurade uma elegante Coquette, para mais fazer realçar seus encantos,quando deixe cair aquelle hediondo disfarce; assim o immortal poemadevia ser desfigurado por aquelles travessos estudantes. Os Gamas,Castros e Albuquerques tinham de ceder seu logar aos Catigelas, Lunas eBarbanças, barões sem duvida tão assignalados nos combates de Bacchocomo ess'outros nos de Marte.

Dois mezes durava aquella sessão extraordinaria; e já tão continuadospasseios davam que fallar aos estudantes e tambem dariam que entender áSanta Inquisição d'Evora, se aquella sociedade secreta não fossecomposta, como de facto o era, de quatro theologos, e tão orthodoxos,que um d'elles veio a ser Inquisidor Geral. Mas por fim appareceu amysteriosa obra dos quatro patuscos, como hoje lhe chamaria umacademico, e não sei se já então lhe chamavam. A este modo de composiçãode sociedade e ás muitas emendas que depois soffreu dos curiosos, comoadverte Toscano, se deve talvez a confusão do enredo d'este poema.Parece que seus collaboradores tinham principalmente em vista inverterao de-vinho cada verso que entrava em discussão, sem attender ácoherencia do todo. É provavel que se propozessem a celebrar os maisfamosos bebedores Evorenses, aos quaes alludissem, e talvez nomeassempor seus proprios nomes ou apellidos. Toscano, que os devia conhecer,assim o indica quando diz que tinha feito varias cotas a esta parodiapara melhor se entender. Com effeito na est

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