Martyrio d'um Anjo.--Amour etChampagne.--Um drama intimo.--AFatalidade e o destino.--Cambiantes da comediahumana.--Estrellas e Nuvens.--ÁBeira-Mar.--Um dia de noivado.
COIMBRA
Imprensa da Universidade
1871
MINIATURAS ROMANTICAS
POR
MAGALHÃES LIMA
Ce livre............................
Tremble et palpite abrité sous vos pieds.
Victor Hugo.
COIMBRA
Imprensa da Universidade
1871
A
MEU PAE
Miniaturas romanticas--é um livrinho modesto e despretencioso. O seuauctor não aspira aos louros d'uma gloria certa e immorredoura. Tem desejos;estuda para isso; e tanto lhe basta.
O auctor.
Despontara risonho o dia 23 de maio de 1856. Era profundo o anil do céu. Nemuma nuvem sequer toldava o puro azul do firmamento, nem um sôpro de desgostovinha embaciar o prisma da felicidade humana.
Tudo era bulicio, vida, amor!...
A natureza, revestida das magnificentes pompas da primavera, desentranhava-seem flores e fructos, revelando mais e mais a grandeza e omnipotencia do Creador,que avulta tanto no mais humilde insecto, como no mais esplendido organismo.
Folgava a toutinegra no raminho frondente, dizendo-se ternos amores com oemplumado rouxinol, cujo canto mavioso repercutia em echos longinquos o idylliomelancolico da creação.
Impellida doudejava a mariposa de flor em flor, e a brisa, tepida, ciciava demansinho ao perpassar por sobre a solitaria florinha.
Em delirantes extasis, suspirava a pudibunda donzella, sorvendo grata a vidanum casto e puro anceio.
O amante, sem desfitar os olhos da fugitiva lympha, mudo contemplava, gentil,o retrato da sua amada.
E ao pobre faminto, para quem a ventura fôra meteóro fugaz, no horisontemedonho da humana desdita, sorriu a furto um raio de esperança no seu espiritoangustiado por cruciante dôr.
Sublime era o quadro, beatifica a visão!
E qual seria o ente, cuja alma fosse aleitada por uma centelha divina, quenão sentisse arrobar-se-lhe a existencia ao contemplar tão sublime maravilha,tão rara formosura!!...
Que Raphael seria capaz de reproduzir na tela esta estrophe melodiosa esuavissima do Senhor, a que os homens deram o nome de--primavera!!...
Mollemente reclinada em flacida alfombra, Leonor, parecera, comtudo,indifferente ás doçuras d'este panorama, e ao brilho da sua divina poesia. Emque scismava aquelle anjo de pudor?... Que fatal magnetismo a arrastara ali?
Ninguem o poderá dizer. Ao certo só sabemos que a sua alma, cheia de sublimepoesia, procurara instinctivamente aquella solidão, como que agrilhoada pelanecessidade innata de fugir ao mundo e aos seus encantos.
Leonor chegara do Brasil havia poucos mezes. Cecilia, sua mãe, vendo-seviuva, com este unico thesouro das suas entranhas, para logo tractara de alugarcasa em Bemfica, não só por ser esse o logar da sua naturalidade, senão tambempelo desejo de satisfazer ás reiteradas instancias de sua filha, que desde muitoaborrecia a cidade. Ali viviam aquelles dois anjos uma vida beatifica, alentadospela mutua esperança, e identificados pelos poderosos laços do amor.
Leonor, no dia em qu