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Oração Funebre Recitada nas Exequias do Illm.^o e Exm.^o Sr. Pedro
Alexandrino da Cunha.
por
Antonio Augusto Teixeira de Vasconcellos.
Loanda.Imprensa do Governo.1851.
Este é o juizo que pela boca da independencia profere para sempre averdade.
Fr. Joaquim de Santa Clara. Arcebispo d'Evora. Oração funebre nasExequias do 1.^o Marquez de Pombal.
Senhores:—De quantas grandezas existem sobre a terra nenhuma é tãosolida e duradoira como a da virtude, e mais são muitas, são quasiinnumeraveis as poderosas circumstancias accidentaes a que o juizo doshomens costuma ligar a idéa de grandeza.
Aqui a accumulação das riquezas exige os obsequios de todos; acolá acasualidade do nascimento requer a geral veneração; n'uma parte aelevada cathegoria do emprego demanda o publico respeito; n'outra ovalor nos feitos grandiosos da guerra ordena pela voz da fama, nemsempre justa, a admiração universal: mas quando no livro da Providenciase voltou a ultima pagina da vida do homem, quando para esses obsequios,para essa veneração, para esse respeito, para essa universal admiração,já não existe senão um cadaver, que em breve vae sumir-se na terra paranão tornar a apparecer, então levanta-se a razão publica, independente,livre, e imparcialmente severa, a pezar em rigorosa balança omerecimento do morto, e a ensaia-lo na legitima pedra de toque, para queo verdadeiro oiro se separe da liga impura que lhe alterava o valor.
Neste processo em que não valem as astucias dos causidicos, em que éinutil deprecar a benevolencia dos juizes, em que a interpretação dasleis não soffre as duvidas e contingencias do fôro, lavra-se a sentençaimparcial, que ou condemna o morto ao eterno esquecimento, e desprezodos vindoiros, ou lhe adjudica um nome glorioso, e a saudosa recordaçãode todas as idades.
Não vale a grandeza do nascimento ao que se esqueceu de imitar asvirtudes dos seus maiores; não aproveita a accumulação das riquezas aoque as não empregou honradamente; a qualificação do cargo publico nãosalva o que nelle faltou aos seus deveres, e nas cuias da balançapoem-se de um lado a gloria militar, e lança-se na outra o sanguederramado, as injustiças, as oppressões, e os crimes.
Só a reputação adquirida pelo exercicio constante da virtude, não tem adescontar neste ultimo pleito nem os preconceitos dos homens, nem ainfluencia do oiro, nem o pêzo da authoridade, nem a força das propriasvictorias, porque nenhuma dessas circumstancias accidentaes deu origemao honrado conceito que os contemporaneos legam á posteridade ácerca dohomem virtuoso.
A sentença que então se lavra é insuspeita e digna; os juizesdesapaixonados e rectos, porque naquelle tribunal respeitavellevantam-se todas as vozes desassombradas de receio, livres dedependencia, izentas de respeitos humanos, algumas vezes mesmodesacompanhadas de caridade christã, como que para se desforçarem dojugo que durante a vida lhes impoz aquelle, que nem sequer já pódeescuta-los.
Debalde a voz do Orador affeiçoado se levantaria a desculpar os defeitosdo morto, que mais alta que a sua, a voz da independencia, da razão, eda verdade, despedaçaria junto ao feretro sepulchral o edificio dalisonja, nem haveria voz que não balbuciasse perante os co