Conde de Sabugosa

 

 

 

NA GUELLA DO LEÃO

 

 

 

CONDE DE SABUGOSA

 

NA GUELLA DO LEÃO

 

 

 

 

LISBOA
TYPOGRAPHIA E STEREOTYPIA MODERNA
11, Apostolos, 11
MDCCCLXXXVII

 

 

 

 

Tiragem especial de 45 exemplares em papelJapão

 

 

 

 

I

{5}Quando o leão de purpura dos Silvas perder a sua lingua negraacabará a familia a que vaes pertencer prophetisára o Roque a uma das suasnetas, na vespera do casamento, uma noite de luar coado a custo pelas abobadasdo espesso arvoredo n'uma das avenidas da quinta de Bellas. O Roque nuncamentira. Nas suas apparições pelo parque ensinava o paradeiro de thesourosescondidos, annunciava o advento de desejados herdeiros, denunciava os culpadosque compromettiam com roubos os creados fieis, e diz-se até que consoláraalguns corações com indiscretas confidencias. Se era alma penada (e eradecerto, pois assim o affirmam auctoridades de que não é licito duvidar){6} a ninguem mettia medo. Sobrinhas enetas chamavam por elle, sem o menor arripio de terror, quando ouviam a sua vozauctorisada, sem estremecerem quando avistavam a barba branca e comprida dovelho ministro do sr. D. Pedro II.

Aquella prophecia fôra para a familia dos Silvas, na qual a neta de RoqueMonteiro casára, como um threno biblico crédor de toda a fé. E perpetuára-se natradicção.

Ora n'aquella manhã o leão rompente em campo de prata do escudoesquartellado, fecho do arco em madeira entalhada da capella-mór d'um antigopalacio do bairro de S. Vicente, perdera a lingua negra que o irreverentecaruncho amputára. Foi a velha Brigida quem tal descobriu.

Quando fazia as suas orações, depois de ter baixado sobre o lagedo os olhoshumilhados perante a divindade, ia levantal-os ao ceu na invocação da AveMaria; a sua vista porém parou aterrada na contemplação do escudo truncado, e aAve Maria gelou-se-lhe nos labios. Realisára-se a prophecia do Roque. Ou o sr.D. Carlos o unico representante d'aquella casa ia morrer, ou se preparava aultima derrocada tão annunciada pelas successivas catastrophes dos ultimosannos.

Levantou-se inquieta e assustada e tão preoccupada ia que, ao passar pelagrande casa de espera de ladrilho esburacado, azulejada até á altura de umhomem, e de cujo tecto, escurecido pelo tempo, pendia um merencorio lampeão,pegou{7} inconscientemente n'um maçode cartas do correio que se achava sobre um dos bancos, unica mobilia do vastocasarão, e com um andar apressado, quanto lh'o permittiam os annos e orheumatismo, dirigiu-se ao quarto de Carlos.

Este passeava fumando um charuto, de paletot abotoado, e ainda coma gravata branca que atára na vespera. Quando a velha aia que o creára abriu aporta, voltou a cabeça interrogativamente, quebrando o fio da ideia que opreoccupava.

—Quer alguma coisa, Brigida!

Esperando vêl-o na cama, morto talvez, em cum

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