O CARRASCO
DE
Victor Hugo José Alves
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O CARRASCO
DE
Victor Hugo José Alves
POR
CAMILLO CASTELLO BRANCO
Os cantaré un estraño cuento que no le avreis oydo tal en toda vuestra vida.
M. CERVANTES—Novellas.
PORTO
LIVRARIA CHARDRON
DE Lello & Irmão, editores
1902.{4}
Porto—Imprensa Moderna.{5}
Il y a ici quelque chose... une fleur... cherchez!
SAINT-BEUVE, Portraits des Femmes.
Á volta de uma mesa do café Martinho, em Lisboa, estavam, por 1857,cinco ou seis sujeitos saturados de politica. Estava tambem eu em principio desaturação—palavra pedida de emprestimo á chimica para bemmaterialisar a idéa do corpo abeberado d'aquelle civico enthusiasmo que salvaas nações... nos botequins.
N'aquella noite, os meus interlocutores eram todos mais ou menosrepublicanos. Havia tal que dizia acreditar na metempsycose, porque sentiadentro do seu ventre os figados de Robespierre; e outro, que arredondavamusicamente os periodos corrosivos, revelava-nos, com modestia{6} parelha do talento, que sentia coriscar-lhe no craneo océrebro de Mirabeau;—coriscos, se o eram, todos para dentro; que do fogo, quelhe faiscava da fronte, não havia que receiar combustão em armazem desulphureto de carbonio.
Os outros não me lembra quem tinham dentro de suas pessoas.
Pelo que me diz respeito, recenseando longa fileira de defuntos historicos,suspeitei ser eu a paragem de dois pedaços transmigrados, um de Falstaff, outrode Sancho, por me sentir rasamente lerdo á beira d'aquellas pessoas trabalhadaspor crudelissimas almas de torna-viagem.
Suppunha Gerard de Nerval, que Méry, pela admiravel intuição que tinha dascoisas da India, devia ser a metempsycose d'um mouni do Indostão na pelle d'ummarselhez; ora eu, se é licita a comparação ambiciosa, á vista da sisudapachorra com que assistia aos projectos regicidas d'aquelles cavalleirosandêjos, devo presumir que ha em mim o que quer que seja do pagem do cavalleirotriste, antes de intontecido pelas lisonjas dos ilheos que o degeneraram.
Havia ali um que esmurraçava o marmore das mesas, protestando que os thronosseriam aluidos, quando a lava, escandecente no seio{7}da Liberdade, irrompesse, resfolegando para si os monarchas, e revessando parafóra, com o novo baptismo de fogo, uns evangelhos novos.
O meu terror foi grande. Encarei n'aquelles homens exterminadores, eagourei-lhes mentalmente que morreriam justiçados para descanço do generohumano, e particularmente dos possuidores de inscripçoens e outros fundos.
Agora é de saber que todos aquelles regicidas, hoje em dia, vampirisam asveias desangradas do paiz, pisam alcatifas do paço, e fumam, nos aposentos doscamaristas, charutos da munificencia real, pelos quaes se lhes v