MAGALHÃES LIMA
O CONGRESSO DE ROMA
(Conferencia realisada pelo delegado portuguez ao congresso dolivre-pensamento)
IMPRESSÃO
Typographia de O DIARIO
Rua da Atalaya, 134
LISBOA
Pelo mandato com que me distinguiram no congresso de Roma
Magalhães Lima
Meus Senhores:
Com o mesmo direito com que os catholicos realisam a sua propaganda e assuas peregrinações a Roma, emprehendemos nós, livres-pensadores, a nossacruzada, não para saudar os velhos cardeaes do Vaticano, verdadeiroscadaveres ambulantes, uma especie de mumias petreficadas, symbolisando aMorte, mas para celebrar a Vida, a Natureza, o Cosmos, em todo o seuesplendor, em toda a sua grandeza, em toda a sua magestade, na pessoa dossabios, dos philosophos, dos poetas, dos artistas, dos escriptores, doshomens de lettras o dos jornalistas, seus legitimos e authenticosrepresentantes. Com effeito, o poder espiritual do papa é o poder damentira, do erro, do prejuizo grosseiro, o poder do embuste, o poder datreva, da hypocrisia, do fanatismo e da superstição. O seu poder temporalrepresentaria uma usurpação criminosa, condemnada pelo proprio Christo quemandava dar a Deus o que é de Deus e a Cezar o que é de Cezar. Para nós,livres-pensadores, para o mundo moderno, ha um unico poder espiritual--asciencia, e um unico poder temporal--o trabalho.
Sim, meus senhores, fômos a Roma, não para provocar o escandalo, o queseria improprio de homens que possuem uma educação philosophicadesenvolvida, mas para dar aos jesuitas, aos papistas, aos ultramontanos eaos reaccionarios, de todas as côres e matizes, o exemplo da nossacordura, da nossa serenidade, da nossa reflexão e da nossa tolerancia.Fômos a Roma para proclamar com Haeckel, o celebre anti-papa, como lhechamavam alguns, a consolidação definitiva d'um poder laico, fundado sobrea justiça. Fômos a Roma, para combater essa terrivel e poderosa hierarchiaque se chama o Papismo ou o Ultramontanismo, e que semanifesta sob diversos aspectos, todos contrarios á natureza, á razão e ámoral: o celibato clerical; a confissão auricular; as indulgencias quetransformam o catholicismo em mercantilismo de judeus repugnantes, e a féno milagre que gera o fanatismo e a superstição. Fômos a Roma paraaffirmar com Berthelot, outro notavel anti-papa, que toda a educação, paraser solida e efficaz, deve libertar-se da influencia religiosa, que, ásemelhança de uma immensa teia de aranha, tudo envolve e açambarca. Fômosa Roma para demonstrar solemnemente que a religião não é a padrice,como dizia Ramalho Ortigão, nem a loucura, a idiotia, a que OliveiraMartins chamou allucinação bifronte, nem o delirio chronico,na opinião de um psichiatra francez eminente, porque, n'esse caso,teriamos tambem que admittir o alcoolismo como um dos aspectos dareligião. Fômos a Roma, para dizer bem alto, com o professor Sergi, quetodas as religiões, pela sua immobilidade, são imcompativeis com oprogresso mental e moral das sociedades modernas. A religião, pela suanatureza e pelo seu valor, póde e deve considerar-se como um phenomenopre-historico. É o producto d'uma epocha barbara, originada na ignoranciae no medo do inferno. A substancia de toda a religião é o fetichismo. E ocatholicismo baseia-se, precisamente, sobre o fetichismo e o terror daspenas eternas, uma especie de inquisição, em que o Papa, Torquemada dasconsciencias, pretende impôr-se em nome de um Deus cruel, vingativo eodiento.
Sob este ponto de