CARLOTA ANGELA





CARLOTA ANGELA


ROMANCE ORIGINAL


POR


CAMILLO CASTELLO BRANCO




TERCEIRA EDIÇÃO





PORTO

EM CASA DE A. R. DA CRUZ COUTINHO—EDITOR

Rua dos Caldeireiros, 18 e 20

1874

[4]



TYPOGRAPHIA DO JORNAL DO PORTO

Rua Ferreira Borges, 31

[5]

CARLOTA ANGELA

I

Se a natureza formou uma bella creatura, não póde a fortuna precipital-a n'um incendio?

Shakspeare. (Como vós o amaes.)

Cette douce ivresse de l'âme devait être troublée.

Balzac. (Albert Savarus.)

Norberto de Meirelles e sua mulher D. Rosalia Sampayo, ricosproprietarios, moradores, em 1806, na rua das Taipas, da cidade doPorto, viam crescer prodigiosamente os seus cabedaes, e, com elles, umafilha unica, tão encantadora para os paes como a riqueza com que a iamenfeitando para seduzir o mais medrado capitalista da terra.

Tolerem-me a singeleza com que se começa a narrativa.

Eu tinha á minha disposição quatro exordios bonitos, que escrevi emquatro tiras, e rejeitei com desdem.

Era assim o primeiro:

«Diz-me tu, amor, que magos philtros insinuaste no coração da virgem deolhos negros, que lêda e melancolica, lagrimosa e risonha, te estáenamorando na lua, d'onde lhe sorris em noites calmas de estio, nafloresta, onde lhe cicias palavras nunca ouvidas, na fonte, onde lhemurmuras a tua linguagem do céo? Que ambrozia inebriante déste ádoudinha que, tão requestada e alheada de brinquedos pueris, se vae, sóe destemida, a buscar-te, [6] por entre myrtos e rosaes, perseguindo-tecomo lasciva borboleta de flor em flor, sobre alfombras de verdura, poronde volitam lucidos phalenos?»

Segundo exordio:

«Á viração da tarde tremulava ligeiramente a folhagem do renque dealamos que cintavam uma pintoresca vivenda do Candal. Um repuxo decrystallina limpha trepidava na cascata com soidoso rumor, donosamusica, ao som da qual se espertam amores em peito virgem, e adormecemmágoas em coração atribulado. Morbidamente recostada sobre um banco decortiça, por onde trepava um jasmineiro em flor, via-se, como engolfadaem alegrias intimas das que o rosto esconde ao invejar de estranhos, umagraciosissima donzella... etc.»

Terceiro:

«Onde vae este gentil mancebo, tão á pressa e offegante pela calada danoite, subindo a collina do Candal, em cujo tôpo alveja uma casa, ondeelle parece mandar adiante o coração em cada suspiro que o cansaço lhetira do peito arquejante? Que visão alvissima, que fada ou sylpho é esseque desliza, rapido e volatil, por entre os alamos, e vem ao peitoril domuro, como a anciada Hero, restaurar o vigor do extenuado Leandro?...etc.»

Quarto, e ultimo exordio:

«Vou contar-vos uma historia que verifiquei nas fieis narrações de maisde vinte pessoas vivas. Ides ver até que ponto os paes podem infelicitaros filhos; até que ponto a missão augusta do segundo creador póde serfementida e insidiosa; até que ponto o amor paternal é amor, e d'ondecomeça a ser d

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