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JAIME DE MAGALHÃES LIMA

SALMOS DO PRISIONEIRO

COIMBRA.

F. FRANÇA AMADO, EDITOR.

* * * * *

Salmos do Prisioneiro

Composto e impresso na Tipografia F. França Amado,rua Ferreira Borges, 115—Coimbra.

Jaime de Magalhães Lima

Salmos do Prisioneiro

COIMBRA
F. FRANÇA AMADO, EDITOR

1915

* * * * *

Mentiu-me a liberdade, foi blasfemia! Foi engano, foi ilusão, eatraiçoou-me, atraiçoando a fé que me dá a vida!

Vou levado de rastos neste mundo, guerreiro que nasci para ser vencido. Semovo o braço para combater por sonhos arrojados que o levantem, logo osujeitam e mo fazem escravo as prisões de que em vão tentolivrar-me—prisões de amor, abençoado carcere, onde sofre e se alegra ocoração, onde se humilha prêso a toda a terra e onde se exalta erguido acéus eternos e ao Deus que rege a terra e rege os céus.

A piedade, a dôr, remorso e fé, perdão, esperança, a esmola e acontricção, e a ilusão e a mágoa e o desengano, tremores da consciênciaque dúvida, as lágrimas de afecto e aquelas outras, candentes e de fogo,em que o êrro chorou arrependido; e o silêncio, que eu temi, que eu amei eque busquei para todo me entregar ao seu poder; e a mudez que diz mais quea voz mais alta, e a sedução da morte, quanto anseio a minha almapressentiu;—e quanta formosura nos afaga e quanta sombra nos aterra eprostra, a água clara do regato límpido, a luz do dia, a verdura do prado,e toda a austeridade da montanha, severa, grande e rude, imperturbável, eo inflamado terror da tempestade, e o mar e as suas ondas tormentosas, eos pômos rescendentes de perfume; a rosa, e a criança; e os olhos quefascinam; e a graça que incarnou na juventude, e a nobreza que é a graçade velhice:—venceram-me, prenderam-me!…

E sempre que me ergui para libertar-me, sempre escravo caí do seu encanto;e no meu peito ouvi salmos de amor, louvando os ferros que o apertavam elouvando o Senhor que lhos mandava; e o meu peito os cantou e repetiu,sorrindo à sorte que o rendeu cativo.

I

Da lívida tormenta, que em nuvens repassadas do seu luto turva o diaamoroso de setembro, cai sôbre a terra a chuva maternal a dar seu leite àsseivas minguadas e a dar aos pômos tumidos a unção de um derradeiro esalutar frescor.

Realça na levada alvas espumas; redobra no açude o seu cantar; banha emcristal a rama dos carvalhos; a veiga reverdece; e o pinheiral, que àlêmsofria a sêde entre os penhascos donde, heroico, brotou a desmentir-lhessua infecunda aspereza abandonada, serenamente bebe o refrigério, comosofreu sereno a crueldade da ardência do estio prolongado, seus ramosapontados às estrelas, quer padeça tormentos, que se exalte em bens dassuas horas mais felizes,—por certo vendo amor que nós não vemos, mas queem suas esmolas nós sentimos, na sombra, na fogueira e na choupana, notecto dos casais e sôbre as águas, salvando do naufrágio os desvairadosfilhos de cobiça.

Ao longe, o traço agudo das montanhas cortando a seu capricho oshorisontes, seus píncaros audazes

...

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