VISCONDE
DE
VILLA-MOURA
FIALHO D'ALMEIDA
(COM UM DESENHO DE ANTONIO CARNEIRO)
EDIÇÃO DA «RENASCENÇA PORTUGUESA»
Direitos reservados
FIALHO D'ALMEIDA
DO AUCTOR:
A Moral na Religião e na Arte, 1906.
A Vida Mental Portuguesa, 1909.
Vida Litteraria e Politica, 1911.
Nova Sapho (romance), 1912.
Camillo Inédito annotado, 1913.
CONTOS E NOVELLAS:
I—Doentes da Belleza, 1913.
II—Bohemios, 1914.
Antonio Nobre, 1915.
Grandes de Portugal (em collaboração com Antonio Carneiro), 1916.
Fialho d'Almeida, 1916.
VISCONDE DE VILLA-MOURA
Fialho d'Almeida
EDIÇÃO DA
«RENASCENÇA PORTUGUESA»
PORTO
Fui ali quando das minhas jornadaspelo Baixo Alemtejo, em excursão decurioso pelo mais da sua gente e paizagem.
A primeira vez que visitei a residenciade Fialho, que não é já hoje a casita detaipa que os seus construiram, mas umadas melhores da terriola,—foi por umatarde de agosto, uma daquellas tardes de{10}rescaldo que erguem, á volta de nós, serpentesde fogo, e lhe ensinaram, a elle, asua pintura deslumbrante, á maneira deRubens, em que a propria côr queima!
Não foi sem um certo alvoroço, confesso,que bati ao portão da antiga casado Escriptor.
Veio alguem abri-lo, deixando a descoberto,a meio de uma segunda portafronteira, um homem alto, vestido de negro,de aspecto recolhido, quasi ecclesiastico,e que, num instante, me encarou e desappareceu,abandonando-me no jardim, aosol, com o meu remorso de indiscreto.
Desapparecera tambem o creado, ouquem quer que fosse, que me tinha introduzidono pateo.
Esperei instantes, e, como não vissealguem, dirigi-me para a entrada da primeiracasa, que logo vi ser a cozinha,encarando, pela segunda vez, aquella mesma{11}figura quasi sombra, que depois soubeque era o irmão de Fialho.
Disse alto o que queria:—falar ao donoda casa e pedir-lhe o favor de me deixarver a antiga residencia do Artista.
Sahiu a attender-me uma mulher nova,figura doente e franzina, que logo se deua explicar-me que era ella a actual donada antiga casa do Escriptor, de quem eraparenta, vivendo ali com o marido e seuprimo,