Notas de transcrição:
O texto aqui transcrito, é uma cópia integral do livro impresso em 1894.
Mantivemos a grafia usada na edição impressa, tendo sido corrigidos algunspequenos erros tipográficos evidentes, que não alteram a leitura do texto, eque por isso não considerámos necessário assinalá-los. Os erros tipográficosque nos suscitaram dúvidas foram também corrigidos, e foram assinalados com um comentário do tipo: texto corrigido.
COLLECÇÃO ANTONIO MARIA PEREIRA—25.º Volume
Contos phantasticos
{II}
{III}
COLLECÇÃO ANTONIO MARIA PEREIRA
THEOPHILO BRAGA
CONTOS PHANTASTICOS
SEGUNDA EDIÇÃO
CORRECTA E AMPLIADA
LISBOA
Livraria de Antonio Maria Pereira, Editor
50—RUA AUGUSTA—54
1894
{IV}
{V}
Vae para trinta annos que estão publicados os Contos phantasticos. Emboa verdade, nunca mais passei os olhos por este livro, que me apparece agoracomo obra de um extranho. Não tornei a lêr esses contos, não por um affectadodesdem pela minha obra, desdem que condemno em todo o escriptor que se nãopreoccupa com a coordenação definitiva dos seus trabalhos, mas porque estepobre livro ficára ligado a impressões dolorosas cuja renovação evitava.
Foram reunidos em volume em 1865 os Contos phantasticos no meio dasrefregas da conhecida Questão de Coimbra; publicára a maior parted'elles no Jornal do Commercio, em cuja collaboração litteraria auferiauns tantos réis com que ia seguindo o meu curso na Universidade. De repenteachei-me cercado de odios; cortaram-me os viveres na empreza do jornal, nasaulas de Direito tiraram-me a mesquinha distincção academica, os criticosespalmaram-me rudemente, os livreiros recusaram-se a dar publicidade ao queescrevia, e os patriarchas das lettras com o peso da sua auctoridade sorriamcom equivocos sobre o meu valor intellectual, chegando a circularem lendasdepressivas do meu caracter e costumes que só consegui desfazer{VI} com uma vida ás claras e cheia de ignorados sacrificios.Outro qualquer ter-se-hia rendido.
Vi-me forçado a inverter as bases da minha existencia, abandonando a Arteque me seduzia, porque me abandonara a serenidade contemplativa, e lancei-me ácritica, á erudição, á sciencia, á philosophia. N'este campo os meus erros eexageros bem merecem ser perdoados. Só muito tarde é que consegui conciliar emmim estas duas tendencias do espirito; mas não pensava em reimprimir osContos phantasticos, a não sêr um dia em uma collecção de cousas avulsasconstituindo a ingenua miscellanea das minhas Juvenilia.
Uma carta do meu bom amigo Antonio Maria Pereira surprehendeu-me,manifestando o desejo de fazer uma nova edição d'estes Contos. Comorecusar-me a uma tão honrosa proposta?
Resalvei a condição de revêr isso de que nem já formava ideia. Foi assim quetive de lêr os Contos phantasticos, do rapaz de vinte e dous annos queexistiu em mim, e a frio pude julgar da impressão por elles produzida. Acheiali uma fraca penetração do mundo subjectivo ou moral, encoberta com o esforçodas comparações poeticas e dos epithetos; desgostou