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Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Teamat
Terceira Edição
Porto
Em casa de A. R. da Cruz Coutinho, Editor
18—Rua dos Caldeireiros—20
1875
TYPOGRAPHIA DO JORNAL DO PORTO
Rua Ferreira Borges, 31
Entre os subditos da rainha Victoria, residentes no Porto, ao principiara segunda metade do seculo dezenove, nenhum havia mais bemquisto e maisobsequiado, e poucos se apontavam como mais fleugmaticos e genuinamenteinglezes, do que Mr. Richard Whitestone.
Por tal nome era em toda a cidade conhecido um abastado negociante defino tacto commercial e genio emprehendedor, cujo credito nas primeiraspraças da Europa e da America, e com especialidade nos vastos emporiosda Gran-Bretanha, se firmava em bases de uma solidez superabundantementeprovada.
Nos livros de registro do Bank of England, bem como nos de algunsJoint-Stock banks e dos banqueiros particulares da City ou deWest-End, podia-se procurar com exito documentos justificativos d'estecredito florescente.
Não era Mr. Richard homem para seguir sómente caminhos batidos, nem paraempallidecer ao abalançar-se em veredas não arroteadas, onde se achava asós com os seus esforços e tenacidade.
Por vezes arriscára capitaes a inaugurar companhias, a plantar novosramos de commercio, a auxiliar industrias nascentes, aventurando assimproveitosos exemplos, para serem seguidos depois, já com melhoresgarantias de lucro, por seus collegas, caracteres em geral cautelosos epositivos e sempre desconfiados a respeito de innovações.
Apesar d'isso, as crises, essas derruidoras tempestades tão frequentesna vida do commercio, tinham passado por cima da casa Whitestone,respeitando-a. Através das nuvens negras, que tantas vezes assombram omundo monetario, vira-se sempre brilhar a firma do honrado Mr. Richard,com o esplendor tradicional; emquanto que não sorriram fados tãopropicios ás de muitos meticulosos e precatados, não obstante egoistasabstenções.
Era o caso de mais uma vez repetir o Audaces fortuna… de já estafadamemoria.
Esta immunidade, em parte devida á lucida intelligencia, com a qual Mr.Richard sabia superintender nos variados negocios do seu tracto, emparte a não sei que benigno espirito, ou acaso feliz, a que muitas vezesparece andar subordinada a fortuna, valera-lhe uma illimitada confiançaentre todos, com quem o negocio o ligava, confiança da qual, nem emcircumstancias frivolas, se mostrou nunca indigno depositario.
O quotidiano apparecimento do negociante estrangeiro na Praça—nome queentre nós se dá ainda á rua dos Inglezes, principal centro detransacções do alto commercio portuense—festejavam-o benevolentessorrisos, rasgadas e pressurosas reverencias, phrases de insinuanteamabilidade e affectuosos shake-hands, segundo o mais ou menosadiantado grau de familiaridade, que cada qual mantinha com elle.
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