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O vinho do Porto

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Porto—Imprensa Moderna

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CAMILLO CASTELLO BRANCO


O vinho do Porto

PROCESSO D'UMA BESTIALIDADE INGLEZA

EXPOSIÇÃO A

THOMAZ RIBEIRO


2.ª EDIÇÃO




PORTO
LIVRARIA CHARDRON
De Lello & Irmão, Editores
1903

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Propriedade absoluta dos editores
Reproducção Interdicta

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a Thomaz Ribeiro

Como sei que o teu amor ás perfidas trêtas e manhas daInglaterra não édos mais acrizolados, venho offerecer ao teu sorriso um specimen de bestialidade ingleza.

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Ha trinta e cinco annos que um bretão anonymo lavrou naWestminsterReview a condemnação do vinho do Porto como deleterio eempeçonhado poracetato de chumbo e outros toxicos anglicidas. O homem, pelasrábidasviolencias do estylo, parece ter redigido a calumnia depois de jantar,n'umaexaltação capitosa do tannino do alvarilhão que elleconfundiu com asafflicções dos venenos metallicos. Relembra lamentosamente,com a lagrima das[8] bebedeiras ternas, o seculo dezoito, emqueo genuino licor do Porto era um repuxo de vida que irrigára apreciosaexistencia de grandes personagens da Gran-Bretanha. Recorda Pitt e Dundas,Sheridan e Fox, famigerados absorventes do nosso vinho. Diz que Lord EldoneLord Stowel, graças infinitas ao Porto, reverdejaram e floriram emvelhos; eSir William Grant, já decrepito, bebia duas garrafas de Portoa cadarepasto, para conservar crystallinamente a limpidez das suas faculdadesmentaes e a rija musculatura de todos os seus membros jálocomotores, jáapprehensores, e o resto. Lamenta que Pitt, debil decompleição, com o usoimmoderado d'este tonico, e em resultado de plethoras frequentes combatidascom ammoniaco e sulfato de magnezia, vivesse dez annos menos do queviveria,se possuisse o incombustivel [9] estomagocurtido do veneravel Lord Dundas.

Succedeu, porém, ao collaborador da Westminster Reviewachar-sedyspeptico, com azías, relaxes intestinaes, eructaçõescloacinas, e o craneosempre flammejante como suja poncheira, com o encephalo em combustãodecognac e casquinha de limão—isto depois desaturações copiosas dos vinhosadulterados do Porto—uma mixordia negra, diz elle afflicto;mas nãosabe decidir de prompto se a degeneração está naraça saxonia, se novinhoportuguez. Pelo menos e provisoriamente considera-se envenenado, obruto.

Pois o veneno que lograr infiltrar-se nas mucosas inglezas deve ter apotencia esphacelante da Agua Tufana dos Borgias. Em Inglaterra os porcosengordam na ceva do arsenico. Que fibras de raça [10] aquella! É que a carne d'umbretão diverge muitoda carnadura da restante Europa. O anthropologo Topinard observou que amortandade nos hospitaes inglezes, em seguimento ásoperações cirurgicas,eramuito menor que a dos hospitaes francezes. O sabio Velpeau, consultado pelaAcademia de Medicina, respondeu que la chair anglaise et la chairfrançaise n'etaient la même. E não dá arazão da differença, por que anão sabia o grande biologo. Eu, na observancia do dictame doEspirito Santo,pela bocca do Ecclesiastico—«não escondas a tuasabedoria»illucidarei o sn

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