ROMANCES ILLUSTRADOS
JAYME DE MAGALHÃES LIMA
TRANSVIADO
ROMANCE ILLUSTRADO
COM MAGNIFICAS GRAVURAS
LISBOA
EMPREZA EDITORA
T. da Queimada, 35
JAYME DE MAGALHÃES LIMA
TRANSVIADO
Romance illustrado com magnificas gravuras
LISBOA
EMPREZA EDITORA
35—Travessa da Queimada—35
1899
EMPREZA EDITORA
[5]
Dedico-te este livro que é simultaneamente uma recordaçãoe uma promessa da nossa amizade. Nasceu davida commum do nosso espirito, da experiencia na asperae triste jornada pela terra que temos feito juntos e emque caminharemos unidos até que o destino lhe ponhatermo.
[7]
Nos campos do Mondego, abaixo de Coimbra,a primavera é frequentemente agrestee fria. Quando o vento do mar soprarijo sobre os brancos lençoes de malmequeresa surgir da terra humida e paludosa,ainda farta das aguas do inverno, astardes são inclementes para o corpo ávidodo repouso e doçura da natureza.
Este rapaz que além se apeou d'umacarruagem, em frente da estação de S. Braz,na estrada que vem dos lados de Albergaria,atravessou a linha conchegando o gabão que ovento desconcerta, e, mal entrado na gare, em quesó destaca uma carreta abandonada com poucos fardos,procura onde se abrigue. Estamos todavia n'umatarde d'abril.
O rapaz seguiu vagarosamente, ao longo da gare;na porta em que leu «sala d'espera» abriu e entrou. Aum canto, sobre o duro banco de madeira, dormitavaum homem gordo, de lunetas, mãos nos bolsos echapéu derrubado para os olhos; ao lado uma mulher[8]esbelta e franzina, um olhar brilhante sob o véo quelhe cobria o rosto. O homem levantou-se levementeturbado, com modos submissos, e pareceu hesitar.
—Eu agora... contra a luz..., não distinguiabem. Perdoe v. ex.a! disse dirigindo-se ao recem-chegado.
—Eu tambem, como vinha de fóra e a sala estavaum pouco escura, não o conheci á primeira vista. Foinecessario reparar um pouco...
—Então como tem passado v. ex.a depois da suajornada ao estrangeiro?... Será melhor sentar-nos,acrescentou apressadamente o homem das lunetassem esperar resposta... V. ex.a tem aqui logar...dizia affastando um cesto de morangos d'um sofá queparecia mais commodo.
—Muito obrigado, muito obrigado... Não se incommode...Em qualquer sitio...
E o rapaz ia a sentar-se quando o outro, abruptamente,o obriga a aprumar-se apontando-lhe a mulher.
—Minha mulher... o sr Claudio de Souza Portugal,um cavalheiro muito illustrado e do meu maiorrespeito!
Trocaram-se as palavras sacramentaes e todos sesentaram.
—Que extravagante modo de vêr! começou Claudio.Nas cidades, onde não faltam recursos, a Companhiadá-nos uma sala de espera com certo conforto,e aqui, n'este deserto, no meio d'um charco, reduztodas as commodidades dos pobres pass