MAGALHÃES LIMA
COSTUMES MADRILENOS
NOTAS DE UM VIAJANTE
SEGUNDA EDIÇÃO
—
COIMBRA
LIVRARIA CENTRAL DE J. D. PIRES—EDITOR
1877
COSTUMES MADRILENOS
COSTUMES MADRILENOS
NOTAS DE UM VIAJANTE
POR
S. DE MAGALHÃES LIMA
SOCIO HONORARIO D'EL FOMENTO DE LAS ARTES DE MADRID
2.ª EDIÇÃO
—
COIMBRA
LIVRARIA CENTRAL
DE
JOSÉ DIOGO PIRES—EDITOR
1877
IMPRENSA ACADEMICA
AO
SENHOR.
D. BENIGNO JOAQUIM MARTINEZ
Off.
O auctor
{7}
Leitor amigo, se queres possuir a chave da vida, se queres ter o segredo daexistencia, aprende a viajar.
A viagem tem, como todas as cousas d'este mundo, a sua pequena philosophia eas suas theorias, mais ou menos complicadas, e os seus progressos mais ou menosnotaveis.
Viajar não é uma variedade de sensações apenas; mas ainda mais, eprincipalmente,{8} uma fonte inexgotavel de boa esalutar experiencia, um manancial perenne de vividos enthusiasmos por tudoquanto é bello, novo e original, e uma origem fecunda de analyse, de observaçãoe de critica, que de ordinario raro é de encontrar-se no paiz onde nascemos, ouna cidade onde residimos.
E assim é realmente que, se tu quizeres admirar a seriedade nos costumes, arobustez no corpo, a soberania na guerra, o metaphysico na sciencia, o imperiona familia, a fidelidade nos affectos, e a superstição na religião—tu irás áAllemanha.
Se pelo contrario, tu desejares vêr a frouxidão no corpo, o indifferentismoem politica, a lassidão nos costumes, a perversão nos principios, a fraqueza nasciencia, o theologismo na religião, o lyrismo na vida—tu, sem mais trabalhosnem violencias, ficarás em Portugal.
Mas se tu, embora não te repugne a debilidade physica e a pusillanimidade deespirito, quizeres o ideal da arte e a architectura da sciencia—entãoprocurarás Italia.{9}
Por outro lado ainda, se te impressiona o ruido das palavras, a viveza doolhar, a facilidade dos affectos, a modestia do trajar, a generosidade docoração, o esplendor do ménage—parte para a Hespanha.
Com uma mulher hespanhola vive-se bem um mez, num sensualismo delicioso,numa voluptuosidade tepida e numa ardencia de amores que nem sempre é vulgarnas outras mulheres do mundo.
Com uma mulher franceza, porém, o espirito não se cança nunca, nem o coraçãochega jámais a desesperar—e se um seculo vivessemos, um seculo tambemconsagrariamos a essas fadas, mais demonios do que anjos, e quasi sempre maisamantes do que esposas.
No francez dá-se, a par da elevação da idéa, a agi