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O Cancioneiro portuguez da Vaticanae suas relações com outros Cancioneiros dos seculos XIII e XIV.
(Zeitschrift für Romanische Philologie, 1877)
O apparecimento do Cancioneiro portuguez da Bibliotheca do Vaticano,que encerra quasi toda a poesia lyrica do fim da edade media emPortugal, veiu mais uma vez provar a superioridade da iniciativaindividual sobre a estabilidade inerte das instituições collectivasque apenas apresentam o vigor do prestigio official; desde 1847 que aAcademia real das Sciencias de Lisboa deixava jazer no pó do archivode Roma este importante documento nacional, e foram sempre ficticiosos esforços para obter uma copia d'elle, que de ha muito devera tersido reproduzida no corpo dos Scriptores, que forma uma das partesdos Portugaliae Monumenta historica. No emtanto, no estrangeiro ointeresse scientifico muitas vezes se havia occupado do passadohistorico de Portugal, e foi a esta corrente que obedeceu o illustrephilologo romanista Ernesto Monaci coadjuvado pelo activo eintelligente editor Max Niemeyer, restituindo a este paiz o textodiplomatico do mais precioso dos seus documentos litterarios. Aoterminar do modo mais consciensioso a sua empreza, escreve Monaci:"voglia il cielo che tornato il libro in Portogallo, diventi prestooggetto di studj novelli. È solo nella fonte delle tradizioni patrieche lo spirito di una nazione si ringagliardisce." (Canz. port., p.XVIII.) Infelizmente na litteratura portugueza ainda se nãocomprehendeu esta verdade salutar, e por isso o talento desbarata-seem architectar phantasmagorias de cerebros doentes ou em fazertraducções de romances dissolutos. Acceitando a responsabilidade daspalavras do editor do Cancioneiro da Vaticana dirigidas a esta nação,cabia primeiro do que a todos á Academia real das Sciencias de Lisboaresponder pela seguinte forma:
1°. Publicar o texto critico e litterario restituido sobre a liçãodiplomatica em grande parte illegivel fóra de Portugal.
2°. Acompanhar esse texto com todos os dados bibliographicos de que sepossa alcançar noticia, para sobre elles basear a historia externa daformação do Cancioneiro.
3°. Acompanhal-o de um bom glossario das palavras empregadas na dicçãoprovençalesca da poesia palaciana.
4°. Por ultimo organisar um vasto quadro da historia litteraria dePortugal no periodo dos nossos trovadores, deduzido dos abundantesfactos historicos que fornece o Cancioneiro da Vaticana.
É para isto que existem as Academias nos paizes civilisados, que osgovernos as subsidiam, e que os seus membros têm o fôro de sabios. Emquanto a Academia real das Sciencias de Lisboa não cumpre este seudever, cumpre-nos dar uma noticia d'este Cancioneiro, longos seculosperdido pelas bibliothecas estrangeiras.
N'este codice se encontram as nossas origens litterarias, e asrelações intimas que filiam a litteratura portugueza no grupo daslitteraturas romanicas da edade media da Europa; aqui se achamrepresentadas as duas correntes da inspiração popular e palaciana ouerudita, bem como os costumes intimos de uma sociedade que nos édesconhecida, mas d'onde proviemos; os successos historicos aí têm asua nota accentuada; os nomes que figuram nas lendas genealogicas enos feitos de armas no periodo da constituição da nossa nacionalidadea